Unidade e combatividade <br> na Península de Setúbal

A adesão na in­dús­tria foi su­pe­rior à da greve an­te­rior

Image 11925

A Pe­nín­sula de Se­túbal pode ter per­dido, nas úl­timas dé­cadas, al­gumas das suas em­presas mais em­ble­má­ticas, mas mantém in­to­cável a sua qua­li­dade de for­ta­leza da re­sis­tência e da luta dos tra­ba­lha­dores e do povo. Na greve geral de an­te­ontem, uma das mai­ores dos úl­timos tempos, isso ficou uma vez mais com­pro­vado, com as ade­sões a serem em geral su­pe­ri­ores à pa­ra­li­sação de 22 de Março úl­timo.

Um dos sec­tores em que a greve geral se fez sentir com mais pu­jança foi o dos trans­portes. Na Linha do Sado da CP, bem como na CP Carga e nos Trans­portes Co­lec­tivos do Bar­reiro, a adesão foi total. Nos Trans­portes Sul do Tejo a par­ti­ci­pação dos tra­ba­lha­dores foi de 90 por cento. Na Trans­tejo foram de­fi­nidos ser­viços mí­nimos, ao con­trário do que acon­teceu em greves an­te­ri­ores, e só essas car­reiras le­van­taram ferro. A So­flusa sentiu fortes cons­tran­gi­mentos ao seu fun­ci­o­na­mento de­vido à greve.

Image 11924

Na in­dús­tria, a adesão foi con­si­de­ra­vel­mente maior do que em pa­ra­li­sa­ções an­te­ri­ores. No es­ta­leiro da Lis­nave na Mi­trena, em Se­túbal, a pro­dução es­teve pa­rada. No Parque In­dus­trial de Pal­mela, onde fun­ciona a Au­to­eu­ropa e ou­tras em­presas a ela li­gadas, só se tra­ba­lhou numa delas, e com sé­rios cons­tran­gi­mentos. Na Vis­teon, no pri­meiro turno do dia, só fun­ci­o­naram duas das 13 li­nhas de pro­dução en­quanto que na Alstom houve também uma grande adesão dos tra­ba­lha­dores. Na Fi­sipe, a par­ti­ci­pação dos tra­ba­lha­dores foi su­pe­rior à da úl­tima greve geral.

No que res­peita à ad­mi­nis­tração local, quase todos os ser­viços es­ti­veram en­cer­rados. Na re­colha de re­sí­duos só­lidos ur­banos a adesão foi total em todos os mu­ni­cí­pios da re­gião.

Na Saúde, os en­fer­meiros pro­ta­go­ni­zaram uma greve muito sig­ni­fi­ca­tiva nos hos­pi­tais da re­gião: 75 por cento no Hos­pital Garcia de Orta; 88 por cento no Hos­pital do Bar­reiro; 78 por cento no Hos­pital do Mon­tijo e 72 por cento no Hos­pital do Outão (dados do turno da manhã). Os as­sis­tentes téc­nicos e ope­ra­ci­o­nais também ade­riram em grande nú­mero. De manhã, no Hos­pital de Se­túbal, a adesão foi de 80 por cento, ha­vendo ser­viços – como os de Uro­logia, Or­to­pedia ou Aná­lises – onde esta rondou os 100 por cento.

Na edu­cação, vá­rias es­colas de di­versos ní­veis de en­sino e Ins­ti­tui­ções Par­ti­cu­lares de So­li­da­ri­e­dade So­cial não abriram as portas de­vido à greve. O ser­viço de aten­di­mento da Se­gu­rança So­cial de Se­túbal en­cerrou.

Image 11926

Nas em­presas e na rua!

As três con­cen­tra­ções re­a­li­zadas na re­gião trou­xeram para as ruas dos prin­ci­pais con­ce­lhos as causas e os re­sul­tados da greve geral. En­quanto muitos tra­ba­lha­dores per­ma­ne­ciam nos pi­quetes de greve pros­se­guindo o es­cla­re­ci­mento dos co­legas mais he­si­tantes, ou­tros gri­tavam a plenos pul­mões as múl­ti­plas ra­zões que jus­ti­fi­caram tão ampla adesão à greve geral: o rumo de em­po­bre­ci­mento dos tra­ba­lha­dores e do povo; o agra­va­mento da ex­plo­ração, a des­truição de ser­viços pú­blicos e do poder local de­mo­crá­tico, a sub­missão às grandes po­tên­cias da União Eu­ro­peia.

Muitos dos ma­ni­fes­tantes eram tra­ba­lha­dores no ac­tivo que exer­ciam, nesse dia, o seu le­gí­timo e im­pe­ra­tivo di­reito à greve, en­quanto que ou­tros eram re­for­mados, de­sem­pre­gados ou es­tu­dantes – todos unidos pela re­jeição de uma po­lí­tica que a todos es­maga e rouba as pers­pec­tivas de um pre­sente e um fu­turo me­lhores. De manhã ti­veram lugar duas con­cen­tra­ções: uma reu­nindo os con­ce­lhos do Seixal e de Al­mada; e outra os da Moita e do Bar­reiro. À tarde, foi Se­túbal a en­cher-se do pro­testo e da luta por uma vida me­lhor e mais digna para quem vive do seu tra­balho.

Image 11927

Metro Sul do Tejo
No­tável re­forço da or­ga­ni­zação e da luta

Afirmar que a greve geral de an­te­ontem foi a maior de sempre na Metro Trans­portes do Sul (MTS) po­deria não ter muito sig­ni­fi­cado se olhás­semos sim­ples­mente para o facto, real, de ter sido apenas a se­gunda vez que os seus tra­ba­lha­dores ade­riram a uma greve geral. Mas seria sim­plista ver as coisas desta forma.

Há pra­ti­ca­mente um ano, no Avante! em que se no­ti­ciou a greve geral de 24 de No­vembro, não se falou da MTS, tão pouco sig­ni­fi­ca­tiva que foi a adesão ve­ri­fi­cada nesta em­presa onde rei­nava – e reina ainda – a pre­ca­ri­e­dade e os baixos sa­lá­rios. As greves iam-se su­ce­dendo e o Metro an­dava. Sempre.

Mas deixou de ser assim. Nestes úl­timos meses, muito mudou na em­presa de trans­porte fer­ro­viário li­geiro que serve os con­ce­lhos de Al­mada e Seixal: criou-se or­ga­ni­zação sin­dical e par­ti­dária e vá­rias lutas foram tra­vadas, al­gumas delas com di­mensão con­si­de­rável, como a re­cente greve às horas ex­tra­or­di­ná­rias.

Foram estes avanços que per­mi­tiram que a adesão a esta greve tenha sido tão sig­ni­fi­ca­tiva. Eles e o imenso e com­ba­tivo pi­quete de greve que se con­cen­trou junto às ins­ta­la­ções da em­presa, e que de­moveu muitos tra­ba­lha­dores que pre­ten­diam pegar ao tra­balho de o fazer.

Num dia normal, ainda antes das sete da manhã, te­riam saído 22 com­po­si­ções; an­te­ontem, à mesma hora, não saíra ne­nhuma. Horas de­pois os qua­dros elec­tró­nicos ins­ta­lados nas pa­ra­gens jus­ti­fi­cavam a au­sência de cir­cu­lação com a greve geral. Só ao fim da manhã co­me­çaram a sair os pri­meiros com­boios, a conta-gotas e com uma frequência mui­tís­simo dis­tante da ha­bi­tual. E assim se man­teve até ao fim do dia.

Numa greve, os nú­meros e as per­cen­ta­gens têm uma grande im­por­tância. Mas a sua crueza não pode ocultar os avanços e as con­quistas al­can­çadas pela or­ga­ni­zação dos tra­ba­lha­dores nas em­presas e lo­cais de tra­balho, em torno de ob­jec­tivos con­cretos.

 



Mais artigos de: Trabalhadores

Poderosa jornada de luta

Numa de­cla­ração pro­fe­rida na tarde de an­te­ontem e en­viada aos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial, Je­ró­nimo de Sousa va­lo­rizou a «di­mensão his­tó­rica» da greve geral e apelou à con­ti­nu­ação e de­sen­vol­vi­mento da luta. Trans­cre­vemos em se­guida essa de­cla­ração.

Greve geral marca <br>um novo tempo

No dia 14 de Novembro teve lugar «uma das maiores greves gerais realizadas em Portugal», que «marca um novo tempo, de esperança e confiança, de reafirmação das propostas da CGTP-IN e de acentuação do combate à política...

Resposta esmagadora <br>em Lisboa

Os trabalhadores aderiram em massa à paralisação convocada ela CGTP-IN fazendo da greve geral do dia 14 de Novembro um momento maior no combate à política das troikas. Durante os milhares de acções de mobilização e esclarecimento...

Alentejo com forte adesão

«Estamos a registar uma adesão maior do que na anterior greve geral, abrangendo mais sectores e trabalhadores», afirmou Valter Lóios, num depoimento publicado no sítio Internet do PCP. O coordenador da União de Sindicatos do Distrito de Évora...

Manhã memorável no Porto

O sentimento de êxito era já quase palpável no amanhecer do Porto. Quando os primeiros raios de sol incidiam sobre os piquetes de greve, espalhados do centro à periferia do distrito, já se percebia que esta greve geral seria memorável. Em boa medida,...

Braga<br>Forte participação

A greve geral no distrito de Braga fez-se sentir desde as primeiras horas da noite de terça-feira, com a adesão dos trabalhadores da recolha do lixo nos concelhos de Braga e Guimarães a situar-se em 100% no turno da noite, nível que se manteve no período...

Coimbra<br>Vigorosa rejeição

Foi uma grande greve geral em Coimbra, a testemunhar o sentimento de forte repúdio pelas políticas deste Governo. Não circularam autocarros dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra. Não funcionaram cantinas universitárias....

Algarve<br>Resposta combativa

No Algarve, a greve geral foi uma das maiores de sempre, com os sectores da administração local, das pescas, da educação, dos transportes a registarem uma resposta combativa e determinada por parte dos trabalhadores contra a política do Governo. Muito antes...

Madeira e Açores<br>contra exploração

Na Madeira, a adesão dos trabalhadores à greve geral foi superior à de 22 de Março, com os primeiros dados a confirmar apenas a existência de serviços mínimos em muitos centros de saúde, assim como nos hospitais dos Marmeleiros e...

Leiria<br>Luta para continuar

Enfermeiros e outros profissionais da saúde pararam nos hospitais de Peniche (100 por cento) e Alcobaça (86 por cento), no Centro de Saúde de Ansião (100 por cento). Houve também grande adesão no Hospital Termal, em Caldas da Rainha. Na Cooperativa...

Santarém<br>A crescer no privado

No distrito de Santarém a adesão, dia 14, foi maior no sector privado do que em greves gerais anteriores, como se viu, por exemplo, na Rodoviária do Tejo (adesão de 95 por cento), na Ribatejana (80 por cento), na Robert Bosch (95 por cento), na...

Castelo Branco<br>Expressivo protesto

No distrito de Castelo Branco registou-se adesões significativas tanto no sector privado como no sector público. Adesão que em muitos casos foi de jovens para os quais este representou o seu baptismo na luta, participando pela primeira vez numa greve. E a verdade é...

Viana do Castelo<br>Adesão popular

A greve geral no distrito de Viana do Castelo teve um significativo impacte e não deixou ninguém indiferente. Houve expressões muito significativas na administração pública, fazendo-se sentir em escolas e em cantinas, no Hospital de Viana do Castelo e...

Guarda<br>Por uma política alternativa

Para uma expressiva adesão em sectores públicos e privados aponta também o balanço da greve geral no distrito da Guarda. É disso exemplo a determinada e corajosa adesão de 50% dos trabalhadores do contact center da EDP em Seia, na sua grande maioria...

Aveiro<br>Resistência e coragem

No distrito de Aveiro a adesão nos locais de trabalho e empresas (do sector público e empresarial do Estado e do privado) foi muito significativa e em geral superior à registada em greves anteriores. É uma derrota da política do Governo e das troikas,...

Vila Real<br>Cresce adesão à luta

Os trabalhadores de Vila Real, apesar de todas as dificuldades com que são confrontados no seu distrito – quebra acentuada do investimento público, destruição de serviços públicos e dos sectores produtivos (nomeadamente da agricultura e...

Viseu<br>Forte acção de massas

Muitos foram os trabalhadores e as trabalhadoras que, também no distrito de Viseu, quiseram manifestar o seu profundo descontentamento e protesto perante a política de exploração e empobrecimento. Quer nos transportes colectivos de passageiros (RBL a 90%, quer no...

Solidariedade internacional

A CGTP-IN revelou que, por ocasião da greve geral, recebeu mensagens de solidariedade de organizações sindicais de vários países, nomeadamente: Alemanha (IG BCE e Ver.di), Angola (CGSILA), Áustria (OGB), Brasil (UGT), Coreia do Sul (KCTU), Espanha (Confederação...

Portugueses em Bruxelas

Por iniciativa da organização do PCP na Bélgica, uma acção de solidariedade com a greve geral em Portugal teve lugar na Praça Fernando Pessoa, no seio de um bairro português, e contou com a participação dos deputados do PCP no Parlamento Europeu, Inês...

Não filiados

A greve geral, convocada pela CGTP-IN a 3 de Outubro, mobilizou as estruturas do movimento sindical unitário e do movimento das comissões de trabalhadores. Contou ainda com a adesão de 28 sindicatos sem filiação em sindicais e de 31 organizações filiadas na UGT, revelou...

São mínimos

As normas do Código do Trabalho sobre pagamento do trabalho suplementar – artigo 268.º, n.º 1, alíneas a) e b) – e a retribuição e o descanso compensatório previstos no artigo 269.º «devem entender-se como valores mínimos, podendo praticar-se...

Posição comum <br>do PCP e do PCE

O Partido Comunista Português e o Partido Comunista de Espanha emitiram, no dia 12, uma posição comum relativa às greves gerais que ocorreriam em ambos os países dois dias depois. Nesse texto, os partidos salientam que a crise, «com traços específicos em cada...

Dia de mobilizar

A passagem de Angela Merkel por Lisboa foi assinalada pela CGTP-IN com protestos, assumidos como mais um passo na mobilização para a greve geral e para prosseguir a luta pela mudança de Governo e de política. Os protestos de segunda-feira à tarde,...

Militares rejeitam «austeridade»

Alguns milhares de militares no activo, mas também na reserva ou na reforma, participaram, na tarde de sábado, dia 10, na manifestação que teve lugar em Lisboa, com o apoio das associações profissionais de praças (AP), sargentos (ANS) e oficiais...